19/04/2010

Pressão

É aquele dia em que você acorda atrasado e tem que sair correndo e já está na rua e se toca que esqueceu de urinar e está com um aperto danado na bexiga mas decide aguentar até chegar no trabalho para não se atrasar mais ainda. Eu odeio isso.
Mas era exatamente o que tinha acontecido e eu sentia cada músculo se contraindo e a vontade do corpo tentando romper a barreira muscular que obstruía o líquido enquanto eu andava com as pernas juntas para evitar qualquer movimento involuntário que resultasse em desastre.
Então o ônibus veio atrasado e entrei com dificuldade e aguentei a viagem toda sentindo aquela dor constante sem tréguas. O sujeito ao meu lado falava com outra pessoa sobre uma marca de água mineral e uma senhora em pé falava a outra sobre as delícias de um banho de cachoeira, amplificando e aprofundando a tortura que me afligia.
Finalmente cheguei no trabalho e fui correndo pro banheiro e mal entro na porta e dou uma geral nos indivíduos presentes e constato: lá está ele!
Ele, o matraqueador de banheiros! O sujeito com mil faces e personas distintas, mas sempre o mesmo. Paro no mictório e ele pára no do lado e pergunta: e o framengo ontem, hein?
É demais pra mim. Abaixo a cabeça concentrado fingindo que já estou urinando, mas é um blefe. Não sai um jato, uma gota, nada. Estou totalmente trancado por causa do cretino que insiste em matraquear do meu lado. Pode ser que ele seja um ou seja mil pessoas diferentes a me perseguir, mas será que não percebe o quão desumano é isso? A sacralidade do ato de excretar seus fluidos? A necessidade de solidão, de serenidade e reflexão? O instinto civilizatório que nos impede de realizar o ato na presença de estranhos? A paz mundial?
Finjo que acabei e saio dali, mais doído ainda do que entrei.
Trabalho mal, com vertigens e dores alucinantes. Chego a pensar em me esvair ali mesmo, no meio de meu cubículo, inventando depois uma doença para me desculpar. Quem sabe até não me dão uma folga? Ou férias? Quando a idéia começa a ficar boa demais para ser rejeitada resolvo tentar outra investida no banheiro. Já lá se vai metade do dia e o banheiro deve estar vazio e o matraqueador ausente.
Ahh, terrível engano, mal eu entro no recinto, e lá está ele. Outro rosto, outra voz, outra identidade, mas a mesma personagem de sempre. Vou até o mictório e começo a me concentrar. Lá da pia ele pergunta algo sobre o mapa do prédio. Me concentro ainda mais, com força, e lá vem o jato que trás o alívio e a graça para todos os seres da terra. E a paz dourada ao mundo retorna!

Pressão

É aquele dia em que você acorda atrasado e tem que sair correndo e já está na rua e se toca que esqueceu de urinar e está com um aperto danado na bexiga mas decide aguentar até chegar no trabalho para não se atrasar mais ainda. Eu odeio isso.
Mas era exatamente o que tinha acontecido e eu sentia cada músculo se contraindo e a vontade do corpo tentando romper a barreira muscular que obstruía o líquido enquanto eu andava com as pernas juntas para evitar qualquer movimento involuntário que resultasse em desastre.
Então o ônibus veio atrasado e entrei com dificuldade e aguentei a viagem toda sentindo aquela dor constante sem tréguas. O sujeito ao meu lado falava com outra pessoa sobre uma marca de água mineral e uma senhora em pé falava a outra sobre as delícias de um banho de cachoeira, amplificando e aprofundando a tortura que me afligia.
Finalmente cheguei no trabalho e fui correndo pro banheiro e mal entro na porta e dou uma geral nos indivíduos presentes e constato: lá está ele!
Ele, o matraqueador de banheiros! O sujeito com mil faces e personas distintas, mas sempre o mesmo. Paro no mictório e ele pára no do lado e pergunta: e o framengo ontem, hein?
É demais pra mim. Abaixo a cabeça concentrado fingindo que já estou urinando, mas é um blefe. Não sai um jato, uma gota, nada. Estou totalmente trancado por causa do cretino que insiste em matraquear do meu lado. Pode ser que ele seja um ou seja mil pessoas diferentes a me perseguir, mas será que não percebe o quão desumano é isso? A sacralidade do ato de excretar seus fluidos? A necessidade de solidão, de serenidade e reflexão? O instinto civilizatório que nos impede de realizar o ato na presença de estranhos? A paz mundial?
Finjo que acabei e saio dali, mais doído ainda do que entrei.
Trabalho mal, com vertigens e dores alucinantes. Chego a pensar em me esvair ali mesmo, no meio de meu cubículo, inventando depois uma doença para me desculpar. Quem sabe até não me dão uma folga? Ou férias? Quando a idéia começa a ficar boa demais para ser rejeitada resolvo tentar outra investida no banheiro. Já lá se vai metade do dia e o banheiro deve estar vazio e o matraqueador ausente.
Ahh, terrível engano, mal eu entro no recinto, e lá está ele. Outro rosto, outra voz, outra identidade, mas a mesma personagem de sempre. Vou até o mictório e começo a me concentrar. Lá da pia ele pergunta algo sobre o mapa do prédio. Me concentro ainda mais, com força, e lá vem o jato que trás o alívio e a graça para todos os seres da terra. E a paz dourada ao mundo retorna!


Pressão

É aquele dia em que você acorda atrasado e tem que sair correndo e já está na rua e se toca que esqueceu de urinar e está com um aperto danado na bexiga mas decide aguentar até chegar no trabalho para não se atrasar mais ainda. Eu odeio isso.
Mas era exatamente o que tinha acontecido e eu sentia cada músculo se contraindo e a vontade do corpo tentando romper a barreira muscular que obstruía o líquido enquanto eu andava com as pernas juntas para evitar qualquer movimento involuntário que resultasse em desastre.
Então o ônibus veio atrasado e entrei com dificuldade e aguentei a viagem toda sentindo aquela dor constante sem tréguas. O sujeito ao meu lado falava com outra pessoa sobre uma marca de água mineral e uma senhora em pé falava a outra sobre as delícias de um banho de cachoeira, amplificando e aprofundando a tortura que me afligia.
Finalmente cheguei no trabalho e fui correndo pro banheiro e mal entro na porta e dou uma geral nos indivíduos presentes e constato: lá está ele!
Ele, o matraqueador de banheiros! O sujeito com mil faces e personas distintas, mas sempre o mesmo. Paro no mictório e ele pára no do lado e pergunta: e o framengo ontem, hein?
É demais pra mim. Abaixo a cabeça concentrado fingindo que já estou urinando, mas é um blefe. Não sai um jato, uma gota, nada. Estou totalmente trancado por causa do cretino que insiste em matraquear do meu lado. Pode ser que ele seja um ou seja mil pessoas diferentes a me perseguir, mas será que não percebe o quão desumano é isso? A sacralidade do ato de excretar seus fluidos? A necessidade de solidão, de serenidade e reflexão? O instinto civilizatório que nos impede de realizar o ato na presença de estranhos? A paz mundial?
Finjo que acabei e saio dali, mais doído ainda do que entrei.
Trabalho mal, com vertigens e dores alucinantes. Chego a pensar em me esvair ali mesmo, no meio de meu cubículo, inventando depois uma doença para me desculpar. Quem sabe até não me dão uma folga? Ou férias? Quando a idéia começa a ficar boa demais para ser rejeitada resolvo tentar outra investida no banheiro. Já lá se vai metade do dia e o banheiro deve estar vazio e o matraqueador ausente.
Ahh, terrível engano, mal eu entro no recinto, e lá está ele. Outro rosto, outra voz, outra identidade, mas a mesma personagem de sempre. Vou até o mictório e começo a me concentrar. Lá da pia ele pergunta algo sobre o mapa do prédio. Me concentro ainda mais, com força, e lá vem o jato que trás o alívio e a graça para todos os seres da terra. E a paz dourada ao mundo retorna!