26/12/2010

Feliz obsessão

Ele andava pelo centro da cidade nervoso ultimamente, concentrado em sua última idéia fixa: períneos. Não quaisquer períneos, ele pensava em períneos elásticos em que ele pudesse cravar os dentes e puxar com força, desprezando os buracos ali marginalmente estacionados e sem uso.
Passava a manhã inteira no trabalho com a idéia a lhe martelar a cabeça, que o perseguia no almoço, no trabalho da tarde e na ida para casa. Podia sentir o aroma do períneo, sentir sua carne macia em meio aos dentes, esticando, esticando. Imaginava os dedos passeando pelas partes ao redor do períneo, como numa lenta preparação de terreno. Podia quase sentir-se deslizando sobre o intrólito vaginal, seguindo para o ísquio cavernoso e o músculo bulbocavernoso enquanto ela esperaria numa agonia tensa.
Em seguida deslizaria os dedos pelos períneo, seguindo o caminho pelo músculo transverso profundo, apertando então com força as carnes glúteas até sentir, de forma quase que sobrenatural, a tuberosidade isquiática.
Ele tentava em vão apagar as cenas da cabeça e pensar em outra coisa. Pensava numa chupada, numa boca e garganta gigantescas em que coubesse o pau todo e ainda os testículos, mas nem isso lhe fazia esquecer a idéia de um períneo feminino lhe chamando.
Ia almoçar e via os pequenos bifinhos do restaurante, quase que do tamanho e espessura de períneos. Períneos fritos no almoço. Também o macarrão de tubo, já achatado e esmagado, períneo ao molho sugo.
Ele sentia que a idéia o devorava, consumia, como uma chama que destrói um fósforo. Passou a carregar uma faca em seu bolso, disposto a atacar uma mulher qualquer que andasse a sós numa rua do centro e cortar-lhe a pequena carnezinha para que ele pudesse levar e guardar. Ele precisava encontrar o produto certo para tratar os tecidos que compunham a carne humana, de forma que aquele seu tesouro pudesse se conservar fresco e macio para sempre, ao invés de duro e emborrachado, como costuma acontecer com os embalsamados.
Um dia, no trabalho, sentiu um clique qualquer na cabeça e, quando olhou em volta, viu que a secretária que se aproximava se transformara num gigantesco períneo, assim como todas as outras mulheres que via. E assim pôde, novamente, se reconciliar com o mundo e viver uma vida normal e feliz, rodeado de períneos por todos os lados.