10/11/2010

O bar

O Bar

O que mais gosto no bar é a sensação de falsa solidão. Às vezes o bar tá carregado de gente se espremendo pelos corredores suarentos e vocês se sente completamente só lá dentro. Às vezes o bar está vazio, você bebendo sozinho, emborcando todas no ambiente escuro e parado, mas se sente como se estivesse em uma festa agitada onde você conhecesse todos por dentro.
É como um grande universo, pessoas que não percebem que estão sendo vigiadas e observadas. Tem aquele cara com jeito de fracassado no canto que fica olhando para a espuma do copo sem dizer uma palavra. Tem aquele outro obcecado com um assunto do trabalho que martelou sua cabeça o dia inteiro e não lhe dá sossego nem agora. Tem aquele outro arrependido, que se acha um imbecil, um idiota que acabou expulsando todos de sua vida e agora está só. Tem aquele outro que se apaixonou por uma garota com metade de sua idade e não pode pensar nela que chora, balbuciando apenas que ela é um buraco negro contra qual o espaço pode apenas se curvar.
Tem aquele outro cara alegre, que bebeu demais e ficou sociável demais, conversando com todo mundo em todos os cantos. Tem aquele outro que levou um livro para ler e não ser incomodado e finge que se concentra na leitura. Tem aquele garoto que precisa estudar para uma prova amanhã e parou ali para tomar uma cervejinha e relaxar. Tem aquele fumante de cachimbo que briga com o cigarro que não lhe apetece tanto quanto o seu fumo normal.
Lá no canto, naquele mesa, tem aquele outro que sentou-se de frente pra tevê e finge assistir ao jogo de futebol, muito embora odeie futebol. Tem aquele outro com um DVD de um filme de drogadição dos anos sessenta com trilha sonora do Pink Floyd. Tem aquele outro que quer ser escritor mas sabe que é uma carreira de fracassos. Tem aquele outro que queria montar uma banda de punk rock e veste umas roupas rasgadas, mas nunca foi punk.
Por fim tem o outro cara que fica só olhando as meninas que passam, tentando furar o vestido com os olhos ou adquirir o poder de ver através deles. Tem o cara que tenta conseguir algumas meninas mas já bebeu tanto que não consegue falar olhando para o rosto delas, apenas para o decote. Tem o cara que pensa como a vida teria sido se tivesse arranjado um emprego decente e se entupido de grana, sentado no mesmo banco daquele outro que pensa que deveria ter desistido de tudo de uma vez, ido morar nas ruas e viver selvagemente.
Passa dia e noite e o bar está sempre cheio de velhos sonhos e pesadelos.