18/01/2011

A castração química de Thomas T.

Tinha esse amigo que era o mais empolgado de todos os caras, sempre disposto a ajudar a carregar alguma coisa, organizar um grupo de pessoas ou o que quer que precisasse ser feito. Ele sofria de uma ânsia incomum por movimento, uma compulsão em ver tudo agitado e caía em profundo tédio quando o ambiente estava por demais parado.
Thomas também não conseguia se aguentar ao ver qualquer mulher, ele logo a cercava e assediava por horas a fio, normalmente sem muito sucesso. No desespero por conseguir parceiras ele aprendeu diversas danças eróticas e técnicas sexuais avançadas em cursos pela internet. Era consenso entre todos nós que o que ele realmente precisava era de uma boa castração, que o deixaria mais calmo, menos afoito.
Mesmo com todo empenho ele, quando raramente arranjava uma mulher, não conseguia mantê-la por muito tempo, pois elas logo o abandonavam reclamando de suas manias estranhas como uivar pra lua, ou pedir para a garota subir no telhado ou tocar um trombone enferrujado.
Chegamos a comprar, então, algumas ampolas de Acetato de Medroxiprogesterona, que é muito usado não só por homens que fazem a mudança de sexo para serem mulher, e são dez mil pessoas que já fizeram a cirurgia no Brasil, como também para a castração química de meliantes sexuais.
Tudo veio numa caixa discreta endereçada ao senhor Turbando e ele iniciou o tratamento, mas parou quando os pelos dos braços começaram a cair. Então voltou a ser o velho irriquieto incorrigível que sempre conhecêramos e concluímos, por fim, que não haveria cura.
Para nossa surpresa o encontramos quando saímos numa noite pela cidade em uma busca infrutífera por qualquer bar aberto depois das duas manhã. Como não era fim de semana e Floripa há muito já decaíra daquele auge dos anos 90, onde podíamos contar com um bar 24h aberto do lado de casa, não achamos nada e acabamos parando numa ruela para descansar. Era três horas da manhã e ele vinha andando com um cachorrinho minúsculo, que sentira súbita vontade de urinar no meio da madrugada. Estava assombrosamente calmo, falava devagar, não sabíamos se oprimido pelo sono ou potente medicação. Então nos contou que casara, e a mulher foi aos poucos ocupando a vida e a casa dele, o armário do banheiro, a cozinha, a sala, aquilo que ele devia pensar, até que ele se reduziu a um mero fantasma. Foi aí que descobrimos o grande poder do casamento, a mais antiga e tradicional forma de castração.