06/01/2011

Bons tempos (5)

Naquele verão de 1997 descobrimos que a mulher perfeita morava em nosso prédio. Voz suave, pele morena, busto generoso, pernas compridas, quadris arredondados e... é melhor parar por aqui antes que me empolgue. O melhor de tudo é que ela vivia no apartamento em cima do nosso e Washington, que não morava lá em casa mas fora passar o fim de semana e já lá estava três meses, na hora ficou doido pela menina.
Quer dizer, todos nós ficamos doidos por ela, mas ele decidiu que não podia esperar, tinha que bolar um jeito de se aproximar urgente. Vimos ela pela primeira vez no pátio do prédio, com roupas suaves de verão, havia esquecido das chaves e gritava para a colega de quarto: “Jaci, joga as chaves! Joga as chaves!”
Washington, de fato, não demorou para maquinar um plano e botar em andamento. No dia seguinte tomou banho, se perfumou, procurou na lista telefônica e ligou para o andar de cima se fazendo passar por alguém que ela conhecera numa festa, sob o nome falso de Roosevelt. Ficávamos apenas escutando o que ele dizia e rindo, com a certeza que o treco não iria dar certo: “Oi Jaci, tudo bem?... como assim quem é, não lembra de mim?... não reconhece minha voz?... é o Roosevelt, nos conhecemos naquela festa, lembra?... pois é, a gente tinha bebido um monte e você nem lembra?... eu queria te rever, onde você mora?”.
A cara de pau com que ele ia inventando desculpas e dando em cima da garota era um feito épico, e ríamos no chão ouvindo tudo quando, para nossa surpresa, ele não só tinha conseguido convencer a garota daquela farsa toda, como ainda marcara um encontro em meia hora na casa dela.
Foi a meia hora mais longa do mundo. Por fim ele saiu de casa, foi até a esquina e voltou caminhando, como quem não conhecesse o lugar. Tocou o interfone dela. Ela atendeu e pediu que ele ligasse pro pessoal debaixo porque o aparelho dela tinha defeito, de forma que, por ironia, ainda fomos nós que abrimos para ele entrar.
O encontro transcorria lá em cima já há bastante tempo quando bolamos a sacanagem. Ligamos para ela dizendo que éramos amigo do Roosevelt e ele tinha deixado o número dela para ligarmos, pois a esposa dele estava na maternidade e ia dar a luz.
Logo ele saiu e fomos encontrá-lo para rir dele, mas descobrimos que nossa sacanagem, na verdade, o salvara, pois ao invés de marcar o encontro com a musa, ele marcara com sua colega de quarto, Jaci, cujo nome ele ouvira e gravara achando ser dela, e não desfrutava nem um pouco daquelas belas qualidades.