A arte de vender ilusões
Passadas as eleições, posso falar um pouco sobre esta incomodação bienal que nos acomete. Se há alguma coisa que se aprende com o pleito, é o fato de que ainda não aprendemos nada.
Passamos toda nossa vida desde a redemocratização sonhando com um salvador. Collor viria acabar com os marajás, com a corrupção, tornar o Brasil um tigre asiático, ai de nós! Daí o Itamar até que ajeitou tudo, pôs a casa em ordem, estabilizou a moeda e de novo na eleição fomos atrás da idéia de que um sociólogo iluminado seria a salvação, e ele quebrou três vezes o país. Então o Lula seria a nova redenção, filho do povo, etc e tal, e o governo vai patinando, até tomar algum rumo só na metade quando os programas de distribuição de renda começam a funcionar.
Nova eleição, velhos problemas. E não falo dos candidatos, mas das pessoas que acreditam que os candidatos estão disputando as eleições pensando na população, não nas empresas. Distribuição de renda, por exemplo, não é nenhuma mágica, é a coisa mais fácil de fazer, só nunca fora feita no Brasil porque o setor exportador, dominante da economia, precisa de uma renda achatada para pagar menos salário, diminuindo o preço do seu produto e exportando mais. Então distribuição de renda não é nenhuma benesse ao povo, é apenas o apoio do setor varejista nacional que precisa da renda distribuída para gerar crescimento interno da economia e vender produtos aqui dentro, mesmo que provenham da indústria de fora.
Esse dilema entre exportadores produtores X comerciantes importadores dá a dinâmica do país desde a República Velha, e todo o jogo de cena político dos candidatos é apenas para se situar melhor junto a um ou outro desses setores. São eles que definem as eleições com os milhões de patrocínio, não você, com seu mísero voto no dia de votar. Isso vale para todos eles, até mesmo quem se apresenta como novidade, cujas credenciais para se candidatar foi uma gestão tão inoperante como ministra que acabou demitida pelo seu próprio partido, tendo o desmatamento no Brasil caído drasticamente após a demissão dela.
De todos os emails caluniosos que os partidos lançam nas eleições, o mais tosco me veio dos verdes: acusava o MST de matar tartarugas de rio no Solimões, tendo como prova fotos de tartarugas marinhas (uma espécie bem diferente), tiradas na frente de um mar azul cheio de ondas. E assim o conservadorismo, usando velhos golpes baixos, tenta sempre se vestir de algo novo, e muita gente acredita.
06/10/2010
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