O segredo de roubar todo o dinheiro de alguém no jogo não é roubar no jogo, o que é óbvio demais, mas usar truques de confiança para fazer o sujeito acreditar que o jogo é mais fácil do que realmente é. É o caso daquelas banquinhas que vemos em filmes americanos em que o sujeito embaralha três cartas de cabeça para baixo e o apostador tem que adivinhar qual delas é o ás ou a dama de espadas. O truque sujo ali não é remover a carta certa ou incluir mais de uma, mas o uso de comparsas. Há dois papéis distintos, o do grupo que fica em volta fazendo claque, gerando curiosidade e dando um ar de legitimidade para a coisa, como se fossem testemunhas isentas, e a pessoa que fica jogando e vencendo sempre, para dar a impressão de que o jogo é fácil e entusiasmar a vítima do golpe a apostar. Uma vez que a vítima aposta, a habilidade do embaralhador se mostra de fato e limpa o sujeito.
Ainda que imoral, o recurso é amplamente utilizado ainda hoje. Por exemplo em programas de auditório, que pagam pessoas para sentar na platéia e rir ou aplaudir, estimulando os outros a fazer o mesmo. Ou ainda entre cassinos que pagam pessoas para andar entre as mesas de jogos apostando, para incentivar os outros a também fazerem, muito embora o dinheiro que ele aposte é do próprio cassino e a jogada é toda fictícia. Na sinuca o golpe é duas pessoas entrarem numa mesa de aposta fingindo não se conhecerem, mas uma não mata a bola do outro e posiciona a bola branca na mesa para dificultar que a do outro caia, enquanto o outro faz jogadas arriscas derrubando as bolas dos demais, isto é, um ataca, outro defende, uma armação que rende muito dinheiro, ou uma boa surra, caso descoberta.
Foi aí que decidimos que íamos rapar toda a grana de Darwin. Catilina, o notório traidor romano que tentou derrubar a República no século I antes da Era Comum, fingiu-se de amigo de Darwin para atraí-lo a nossa roda semanal de poker, que andava meio falida desde que a condessa Bathory começara a apelar para cirurgias plásticas, como uma alternativa moderna para o banho com sangue de crianças, do qual ele vinha se abstendo desde sua condenação pela morte de oitenta delas no século XVII.
O esquema estava montado, todo iriam perder de propósito e deixar que Genghis Khan viesse com as boas mãos e ganhasse o bolo, enquanto Diógenes, o cínico, iria aumentando as apostas, para fazer o cientista inglês apostar mais e perder tudo.
“Fünf Karten”, disse a condessa, e o jogo começou...
29/07/2010
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