15/12/2010

Malditos Escritores!

Nós escritores somos realmente grandes trouxas, os escritores homens, pois escritoras mulheres são mais espertas, como via de regra acontece com as mulheres.
O fato é que o escritor é facilmente seduzido por promessas vãs e mulheres perversas. É a desforra irônica do mundo que aquele que se dedica a perceber as nuances e minúcias e contradições da vida cotidiana acabe sendo vitimado por essa mesma gama de detalhes e incongruências.
Tinha esse escritor amigo meu que dizia que não conseguia largar a mulher porque ela o fazia sofrer como um cão. E sofrendo, ele se inspirava e escrevia mais. De forma que o dilema dele é que se largasse a mulher se tornaria um sujeito mais feliz e, com isso, um bloqueio lhe viria e pararia de escrever. A decisão é difícil e injusta, ninguém deveria ter que tomá-la, escolher entre sua profissão e uma vida de tormentos ou a liberdade que o impede de escrever, uma vitória insípida. Por fim fiquei feliz em saber que ele acabou com o sofrimento e terminou com ela. Embora, no fim das contas, ele realmente estava certo, porque nunca mais escreveu nada nestes anos desde então.
Já outro amigo era um trouxa com as loiras. Não podia ver uma loira que faria absolutamente qualquer coisa que ela pedisse. Colecionava na memória uma longa lista de mulheres pelas quais se apaixonara e extraía daí seu material de escrita.
O mais triste de todos, no entanto, caíra numa cilada. Casara-se com uma mulher cruel, vingativa, que procurava sabotar cada passo dele. Era triste visitá-los. Se ele guardava um uísque no armário para tomar numa ocasião especial, ela mudava de lugar, de forma que ele não encontrasse. Sua carteira com dinheiro, que ele normalmente deixava em cima de uma cômoda, ela, só por prazer perverso de atrapalhá-lo, movia sempre para um cabide, de forma que ele nunca achava o dinheiro quando precisava.
Dia e noite ela foi cavando trincheiras na guerra fria que era aquela convivência, avançando meio metro cada dia, deixando cada vez menos espaço para que ele pudesse viver e respirar. A filha de sete anos, que ele trouxera de outro casamento, era tratada com um misto de ódio e desprezo. Não que ela maltratasse a criança, pois era esperta demais para isso, mas destilava de forma mais sutil suas maldades. Uma delas era dar à criança tarefas e responsabilidades que ela sabia que não poderiam ser feitas, culpando depois a coitada pelo fracasso. Torturava a criança para atingir o pai. E a vida se tornava, cada dia, pior.