Eu sempre duvidei da minha timidez porque, afinal, eu tinha certo sucesso em conversações. O medo e ansiedade estavam lá, mas eu conseguia conduzir a conversa para zonas de interesse que me deixavam mais confortável. Só com o tempo entendi que tais estratégias de manipulação eram parte da doença.
Ao longo da minha vida, essa ansiedade social foi mais particularmente danosa no trato com mulheres. Há diferentes níveis de intimidades que se pode alcançar até o momento definitivo de se atacar a presa, com diferentes atividades correspondentes para cada nível. Uma coisa é estar na balada e ir chegando e conseguir a garota, outra situação é passar meses indo na livraria até agarrar a livreira, ou tentar marcar um encontro com aquela prima do cunhado do seu vizinho.
Foi numa dessas que comecei a tentar de tudo para me envolver com Jéssica. Eu pensava em mil tentativas, mas sempre surgia um porém. Até me enchi de coragem e a convidei para sair, ir a um bar. Ela aceitou, entendendo que ia uma turma junto, não como um encontro, e tive que me virar para tentar conseguir uma turma que acompanhasse e, no fim, acabei tendo que desmarcar tudo.
Longe de aprender a lição, achei que deveria declarar-me logo para ela. Por e-mail, é claro, que seria a maneira mais covarde de fazê-lo, pois cara a cara eu jamais teria coragem. Mandei a ela então um gigantesco e-mail recheado de metáforas do amor que eu sentia por ela e de como eu pretendi levar nossa a vida a dois como um grande projeto conjunto.
Eu estava certo da perfeição superior daquela minha proposta e foi grande a minha surpresa quando ela me retornou, no mesmo dia, explicando que a Darlene e o Santos tinham um projeto similar e que eu devia contatar eles. Não entendi de início, será que eu fora tão rebuscado que ela não entendera meus reais sentimentos expressos ali, ou se tratava de alguma forma de relacionamento grupal em andamento?
Entrei em contato então com Darlene e Santos, usando de linguagem dúbia para caso tudo não passasse de um mal entendido. Eles me convidaram para um encontro para interrelacionar nossas propostas e eu já não conseguia entender mais se se tratava de uma reunião de negócios ou uma orgia.
No dia marcado eu estava lá, tenso, nervoso, quase sem ar. Elaborei minha estratégia de negociação e entrei na sala tentando fingir ânimo e espontaneidade, concordando com tudo que diziam. Só o que me importava era Jéssica. Não lembro o que houve, mas, de alguma forma, saí de lá com um emprego.
24/02/2011
18/02/2011
Do imenso pacote de...
Eu fico impressionado como sempre vem à tona, novamente, uma teoria de fim iminente do planeta. É claro que o planeta vai acabar, em alguns bilhões de anos o combustível solar vai estar nas últimas e a vida na terra já era, mas até lá temos tempo de sobra para colonizar outros planetas. E isso não é uma possibilidade, é um imperativo. Minha felicidade é que a missão espacial Kepler já encontrou 5 planetas iguais à terra em uma varredura em cerca de 150 mil estrelas, o que quer dizer que as condições para a vida são extremamente abundantes no universo, cerca de um planeta agradável para a vida terrestre a cada 30 mil estrelas, e existem bilhões delas lá fora.
Enquanto isso, aqui na terra, continua o lenga-lenga de que vai acabar tudo. Estamos nos tornando exageradamente supersticiosos, outro dia porque um bando de aves morreu os caras já começaram a se apavorar. É um sintoma desses nossos tempos de religiosidade nova era, que é basicamente uma espécie de fast food das religiões. Numa religião normal o sujeito se vê forçado a um pacote fechado, se ele quiser fazer sexo com preservativo e tomar a pílula, então terá que mudar da religião A para B. Mas daí na religião B ele não poderá comer linguiças defumadas e terá que mutilar o pênis do seu filho. Então ele muda da religião B para C, mas na religião C ele não poderá beber álcool e terá que mutilar o clitóris de sua filha. Então ele muda para a D, mas então terá de virar vegetariano e incinerar estrume de vaca na casa para efetuar a purificação através do animal sagrado.
É uma coisa terrível, o sujeito moderno fica perdido, precisa ficar mudando, pulando de fé em fé até tentar encontrar uma em que o pacote de dogmas não lhe seja tão insuportável. É por isso que o brasileiro se diz cristão, frequenta terreiro, vê espíritos e acredita em duendes e discos voadores.Com a nova era tudo fica mais fácil, você rasga o pacote das religiões e vai pegando o que lhe convier de cada uma. Se você quer sexo, pega a doutrina sexual do tantrismo e descarta a parte de jejum e meditação, já para as simpatias domésticas, pega as rezas de outra e descarta o resto. No fim você tem um retalho que não chega a ser exatamente nenhuma religião e, o melhor, você pode abandonar cada dogma uma vez que ele se torne incômodo pra você.
Mas o problema é que isso também não funciona, e logo o sujeito chega numa escolha: ou joga no lixo todas as crenças, ou logo está louco, por aí, anunciando o fim do mundo. E pelo visto a maioria acaba caindo na última opção.
Enquanto isso, aqui na terra, continua o lenga-lenga de que vai acabar tudo. Estamos nos tornando exageradamente supersticiosos, outro dia porque um bando de aves morreu os caras já começaram a se apavorar. É um sintoma desses nossos tempos de religiosidade nova era, que é basicamente uma espécie de fast food das religiões. Numa religião normal o sujeito se vê forçado a um pacote fechado, se ele quiser fazer sexo com preservativo e tomar a pílula, então terá que mudar da religião A para B. Mas daí na religião B ele não poderá comer linguiças defumadas e terá que mutilar o pênis do seu filho. Então ele muda da religião B para C, mas na religião C ele não poderá beber álcool e terá que mutilar o clitóris de sua filha. Então ele muda para a D, mas então terá de virar vegetariano e incinerar estrume de vaca na casa para efetuar a purificação através do animal sagrado.
É uma coisa terrível, o sujeito moderno fica perdido, precisa ficar mudando, pulando de fé em fé até tentar encontrar uma em que o pacote de dogmas não lhe seja tão insuportável. É por isso que o brasileiro se diz cristão, frequenta terreiro, vê espíritos e acredita em duendes e discos voadores.Com a nova era tudo fica mais fácil, você rasga o pacote das religiões e vai pegando o que lhe convier de cada uma. Se você quer sexo, pega a doutrina sexual do tantrismo e descarta a parte de jejum e meditação, já para as simpatias domésticas, pega as rezas de outra e descarta o resto. No fim você tem um retalho que não chega a ser exatamente nenhuma religião e, o melhor, você pode abandonar cada dogma uma vez que ele se torne incômodo pra você.
Mas o problema é que isso também não funciona, e logo o sujeito chega numa escolha: ou joga no lixo todas as crenças, ou logo está louco, por aí, anunciando o fim do mundo. E pelo visto a maioria acaba caindo na última opção.
03/02/2011
Machadices
A tinta da melancolia não é difícil antever, é um sublime louvor ao nosso ilustre finado. Ruínas dos tempos que a imaginação dessa senhora também voou, porque esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim a minha idéia mor, e foi então que imaginou as trezentas cubas mouriscas com os seus caprichos de dama elegante. Excelso espetáculo que um homem pode sentir a dor que o punge. Nenhum de nós expeliu o passado.
Talvez eu exponha ao leitor, em algum canto deste doce. Eu estava só, em casa, com um simples enfermeiro; vi-a falar com desdém e um pouco de indignação da mulher impressa num volume, encadernada em marroquim, com fechos de prata: reflexões de cérebro enfermo, uma concepção de alienado, isto é, uma cousa vã.
Comecei a andar, não sei bem quando, mas antes do tempo. No caminho, a planície voava debaixo dos nossos pés, até que, nem a imaginação nem a ciência, e o seu cortejo de sistemas, brincava à porta da alcova. Queria entregar a casa, e a dona não cedia da intenção de tomar o método, sendo, como é, uma cousa indispensável, todavia.
O animal de uma escrava sentou-se. Terça-feira de março, dia claro, luminoso e puro. Não tivemos uma vida comum porque me negara uma colher de educação. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa magnificência. A consumação das senhoras presentes não pôde calar a sua grande admiração. De quando em quando um riso esperando que fosse a última, mas não era.
Não sei nada; sei que desci, quebrei a cabeça dos modernos, entrei a sacar sobre a herança de meu pai, a assinar obrigações. A verdade é que Marcela não possuía a inocência. Reclinada na marquesa, continuou a falar daquilo, conchegou-me ao seio e sacudiu-mos na cara.--Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar.
Depois, levantou-se, sacudiu o vestido, ainda molhado, e caminhou, ergueu metade do corpo, e, apoiada num cotovelo, olhou com um sistema inteiramente superior ao sistema usado. Às vezes parava, erguia ao ar as mãos na poesia e sussurrou-me baixo: Que importava a mim o destino de uma mulher tísica, cabelo arrepiado e longo?
Falei-lhe dos versos, que me lera, o naturalista, literato, arqueólogo, banqueiro, político que morreu alguns anos depois. Diziam que era avaro.
Toda a má impressão se desvaneceu, confessou-me que era uma velha e essa circunstância era-lhe infeliz. Expirou dentro de alguns segundos. A natureza é às vezes um imenso escárnio, a morte não tinha a compostura da mulher casada.
Talvez eu exponha ao leitor, em algum canto deste doce. Eu estava só, em casa, com um simples enfermeiro; vi-a falar com desdém e um pouco de indignação da mulher impressa num volume, encadernada em marroquim, com fechos de prata: reflexões de cérebro enfermo, uma concepção de alienado, isto é, uma cousa vã.
Comecei a andar, não sei bem quando, mas antes do tempo. No caminho, a planície voava debaixo dos nossos pés, até que, nem a imaginação nem a ciência, e o seu cortejo de sistemas, brincava à porta da alcova. Queria entregar a casa, e a dona não cedia da intenção de tomar o método, sendo, como é, uma cousa indispensável, todavia.
O animal de uma escrava sentou-se. Terça-feira de março, dia claro, luminoso e puro. Não tivemos uma vida comum porque me negara uma colher de educação. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa magnificência. A consumação das senhoras presentes não pôde calar a sua grande admiração. De quando em quando um riso esperando que fosse a última, mas não era.
Não sei nada; sei que desci, quebrei a cabeça dos modernos, entrei a sacar sobre a herança de meu pai, a assinar obrigações. A verdade é que Marcela não possuía a inocência. Reclinada na marquesa, continuou a falar daquilo, conchegou-me ao seio e sacudiu-mos na cara.--Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar.
Depois, levantou-se, sacudiu o vestido, ainda molhado, e caminhou, ergueu metade do corpo, e, apoiada num cotovelo, olhou com um sistema inteiramente superior ao sistema usado. Às vezes parava, erguia ao ar as mãos na poesia e sussurrou-me baixo: Que importava a mim o destino de uma mulher tísica, cabelo arrepiado e longo?
Falei-lhe dos versos, que me lera, o naturalista, literato, arqueólogo, banqueiro, político que morreu alguns anos depois. Diziam que era avaro.
Toda a má impressão se desvaneceu, confessou-me que era uma velha e essa circunstância era-lhe infeliz. Expirou dentro de alguns segundos. A natureza é às vezes um imenso escárnio, a morte não tinha a compostura da mulher casada.
02/02/2011
Eu monstro meu
Não sei como às vezes me entedio em meio ao orgasmo contínuo de notícias sensacionais nos dias correntes. Desde a invenção do transistor e baterias de papel ao último porre de Charlie Sheen, chega um ponto em que todos os jornais parecem vazios e as coisas desinteressantes e até mesmo nossa cara teia mundial parece já esgotada, com seu eu tivesse, de uma só tacada, lido todos os seus 5 mil Petabytes, ou meros 5 Exabytes (e crescendo).
A literatura é a única chance de salvação da enxurrada de informações. Fico me agarrando ao texto de autores mortos, tentando destrinchar, analisar, descobrir porque aquelas combinações tão efêmeras de palavras fazem um treco tão bom. Fico tentado a criar meu próprio monstro junto os melhores trechos de história de autores como Kafka, Dostoievski e Poe. Algo que eu jamais faria, é claro.
Isso porque, certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, vi-me transformado num gigantesco inseto. Era começo de julho, num tempo extremamente quente e caminhei devagar, rumo à ponte, precisando esgueirar-me pelos degraus da pensão para evitar encontrar com a dona da casa. Porém, quando ela ousou insultar-me, jurei vingança. Não deveria apenas vingar-me, mas vingar-me impunemente.
Esse pensamento, no entanto, logo se dissipou flutuando entre divagações e fastios de uma mente entediada flanando por aí. Pensei nas grandezas estelares e lembrei que o conceito já não era mais usado há alguns séculos, pois o brilho que vemos de uma estrela aqui na terra não é indicativo do seu tamanho, uma vez que temos que levar a distância em conta. Sem falar nos buracos negros, nos centro das galáxias, invisíveis, porém com uma massa gigantesca. E nenhum buraco negro terá um dia grandeza maior que aquele de Bobbi Starr.
Acalentei-me então com estes pensamentos enquanto os últimos fios de luz solar se extinguiam na superfície da cidade e as sombras alongadas davam vazão ao alongamento passional de uma melodia mental. Não! Era algo que eu certamente jamais faria, uma palavra sequer, muito menos uma frase ou sentença de qualquer mestre literário, jamais eu ousaria usá-las e me apropriar delas, como um ladrão barato que toma dos outros a roupa no varal e as sai usando. Essa determinação me deixava no problema de faltas de palavras a usar, ainda assim minha decisão era irrevogável.
E foi por isso que me levaram à pedreira e me esfaquearam, como um cão, eu disse, e minha sombra, daquela sombra, se soltará nunca mais.
A literatura é a única chance de salvação da enxurrada de informações. Fico me agarrando ao texto de autores mortos, tentando destrinchar, analisar, descobrir porque aquelas combinações tão efêmeras de palavras fazem um treco tão bom. Fico tentado a criar meu próprio monstro junto os melhores trechos de história de autores como Kafka, Dostoievski e Poe. Algo que eu jamais faria, é claro.
Isso porque, certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, vi-me transformado num gigantesco inseto. Era começo de julho, num tempo extremamente quente e caminhei devagar, rumo à ponte, precisando esgueirar-me pelos degraus da pensão para evitar encontrar com a dona da casa. Porém, quando ela ousou insultar-me, jurei vingança. Não deveria apenas vingar-me, mas vingar-me impunemente.
Esse pensamento, no entanto, logo se dissipou flutuando entre divagações e fastios de uma mente entediada flanando por aí. Pensei nas grandezas estelares e lembrei que o conceito já não era mais usado há alguns séculos, pois o brilho que vemos de uma estrela aqui na terra não é indicativo do seu tamanho, uma vez que temos que levar a distância em conta. Sem falar nos buracos negros, nos centro das galáxias, invisíveis, porém com uma massa gigantesca. E nenhum buraco negro terá um dia grandeza maior que aquele de Bobbi Starr.
Acalentei-me então com estes pensamentos enquanto os últimos fios de luz solar se extinguiam na superfície da cidade e as sombras alongadas davam vazão ao alongamento passional de uma melodia mental. Não! Era algo que eu certamente jamais faria, uma palavra sequer, muito menos uma frase ou sentença de qualquer mestre literário, jamais eu ousaria usá-las e me apropriar delas, como um ladrão barato que toma dos outros a roupa no varal e as sai usando. Essa determinação me deixava no problema de faltas de palavras a usar, ainda assim minha decisão era irrevogável.
E foi por isso que me levaram à pedreira e me esfaquearam, como um cão, eu disse, e minha sombra, daquela sombra, se soltará nunca mais.
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