03/03/2011

Na saia da infância

O que aconteceu com a minissaia? Hoje em dia é tão raro ver alguém usá-la. Símbolo máximo do poder e da liberação feminina que veio com a segunda onda do feminismo na década de 1960 (a primeira onda pelo direito de votar, no século XIX, e a terceira sobre as relações culturais de raça e classe, nos 1980 e 90), foi ela que me estimulou desde a infância ao feminismo precoce e à crença de que eu vivia numa época especial, que a tendência de futuro eram as roupas encolherem cada vez mais.
Mas, desde então, o que aconteceu? Nada. Pior que nada: retrocesso. As roupas voltaram a crescer e tapar tudo e aquele sonho de infância que eu nutria para minha vida adulta ruiu junto. É claro que há um lado bom na história, porque aqueles shortinhos masculinos justíssimos também sumiram, então não preciso mais andar por aí com minhas coxas à mostra, e pior, tendo que vislumbrar a coxa alheia.
Mas voltemos ao foco da minissaia, que é assunto mais agradável que as coxas de outrem. O fato é que ainda nos anos 80 lembro dela causando certo escândalo e sensacionalismo em nossa imprensa, embora no exterior ela já tivesse se consolidado muito tempo antes. Em 1972, até o conde Drácula mergulhava de cabeça na minissaia com o filme clássico da Hammer, estrelando Christopher Lee como Drácula e Peter Cushing como Van Helsing, é claro, que por aqui ganhou a bela tradução de “Drácula no Mundo da Mini-Saia”. Aliás, nosso Zé do Caixão não deixava por menos por aqui e não faltavam minissaias em seus belos filmes da época.
A minissaia padeceu dos males da moda. Ao invés de se fincar como tendência irreversível, foi só mais um modismo que passou e pouco se vê pelas ruas, retirou-se ao ambiente de boates. Quando por sorte avistamos alguma na rua, geralmente carrega consigo as marcas de época de quando esteve no auge, isto é, a pessoa que a usa é porque foi jovem nos anos 60 e ainda hoje recorre ao velho vestido de guerra. Se já se tem a dificuldade de a portadora da mini-saia normalmente estar acima dos cinquenta, acresce ainda nestes tempos de carnaval que a maioria das pessoas com minissaia é homem.
Tristes tempos esses em que até o carnaval foi vítima do retrocesso nos costumes e já não se vê mais seios à mostra nem gente sem roupa dançando na rua ou passarela. Foi algo que perdemos no caminho, a perda daquela inocência alegre de andar sem roupas. A ir nesse ritmo ficará melhor o Mardi Gras, o carnaval de Nova Orleans, onde se consolida a tradição de levantar a blusa por um colar de contas.

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