Encontrei ela no supermercado e ela disse: estou brava com você! Eu não sei porque isso me surpreendia uma vez que ela sempre dizia algo assim parecido, embora eu não lembrasse ao certo por que o namoro havia acabado.
Eu li algo que você escreveu no jornal, ela disse, e era sobre mim. Meu bem, eu disse, tudo que eu escrevo sempre é sobre você. Ela corou um pouco e depois disse: achei que você escrevia sobre as outras. É sempre sobre você e sempre sobre as outras também.
Ela se irritou com a nova resposta e perguntou se eu estava comparando ela com outras mulheres e eu disse que ela não devia ter medo de ser comparada, pois não estava em último na corrida, mas sim naquele bolo que formam os corredores que estão ali no meio da prova.
A resposta irritou ela mais ainda e ela saiu bufando sem se despedir. Parece que sempre foi assim. Lembro dos tempos de namoro em que ela chegava e estava sempre angustiada, ou nervosa, ou irritada, ou estressada ou qualquer coisa tempestuosa. Daí ficava mais de duas horas falando sem parar e reclamando da vida e de tudo e de todos e eu lá já sem esperança de conseguir alguma atividade sexual naquela noite, até que ela finalmente amaciava a vinha para mim. Um dia eu disse a ela que não adiantava ela me dizer tudo aquilo, que eu não tinha interesse nas frustrações e angustias e dúvidas e raivas dela, que apenas me interessava que ela soubesse o que queria da vida e fosse em frente. Ela ficou muito irritada com aquilo, disse que eu só pensava em sexo e da importância de compartilhar.
Daí eu disse que ela podia compartilhar à vontade, mas isso não mudaria nada, pois eu não iria esmurrar o chefe dela para ele lhe dar um aumento, ou esmurrar o pai dela para lhe respeitar, ou esmurrar o padre dela por ter mentido durante tantos anos nem esmurrar ela para aprender a parar de se lamentar e tocar a vida, de forma que ela podia compartilhar o quanto quisesse que isso não serviria para absolutamente nada.
Ela ficou muito triste naquela noite e nossa vida sexual minguou de vez até que ela disse que contava tudo para a mãe dela, uma senhora minha vizinha que me conhecia desde criança e foi aí que o relacionamento acabou de vez. Eu não podia suportar aquela senhora sabendo tanto da minha vida sexual.
Aí, depois de um tempo do evento no supermercado escrevi uma série de crônicas sobre os cães de rua. Ela ficou furiosa e me perguntou se aquilo também era sobre ela. Meu bem, eu disse novamente, tudo que eu escrevo sempre é sobre você. E nunca mais nos vimos então...
05/02/2010
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