Eu costumava a suportar bem os verões, adorava mesmo a época, mas esse ano ou estou doente ou o calor está demais. Lembro de já ter pego quarenta graus aqui muitos anos atrás e não parecer tão ruim. Acho que desacostumamos do calor mesmo, depois de um inverno tão ferrado como este último.
Meio-dia e o cérebro começa a derreter. Praguejo contra o ventilador velho que já não funciona direito e saio pra almoçar num ar condicionado. Isto é, num lugar qualquer que seja refrigerado. Entro num supermercado e pego um prato de coxinhas e uma água com gelo até a borda do copo. Fico lá comendo lentamente apenas para aproveitar ao máximo o ar gelado do local.
Tudo mais ou menos bem, até resolver ir no banheiro. Nunca vi um lugar tão lotado. Nem tão sujo. Todos os mictórios ocupados e, pra piorar, um sujeito de tatuagens e topete no cabelo faz poses na frente do espelho pra se arrumar. É a era do metrossexualismo, quer a gente queira ou não.
Depois de mil poses e beicinhos e ajeitadas no topete ele desocupa o local e posso lavar meu rosto um pouco. Não adianta. O calor persiste e resolvo desistir de usar o banheiro que não desocupa e volto para o ar condicionado.
Fico lá zanzando a esmo, até que já passei três vezes por cada seção e sei que é hora de ir. Venho zanzando pela Lauro Linhares acompanhando as placas dos carros, tentando lembrar fatos que coincidam com as terminações. Vejo um carro terminando nos números 0820, e depois de muito forçar a mente me lembro, agosto de 1920, nascimento de Charles Bukowski.
O primeiro foi fácil, olho pela estrada em busca de outro número que me chame atenção. Um carro azul desses que custa cem mil na concessionária passa por mim com a placa 1185. Esse era difícil.
Eu sentia o sol queimando minha cabeça enquanto eu tentava com afinco lembrar uma data que encaixasse. Fico acompanhando o carro que vai no engarrafamento, como se isso pudesse me ajudar. Quando estou quase desistindo eu lembro, novembro de 1985, primeira publicação de Calvin e Haroldo, minha tira de jornal favorita.
Estou lá me felicitando pela lembrança quando vejo o sujeito motorista do carrão jogando seu lixo pra fora da janela. Canalha, porco!
Vejo o boné do motorista e logo imagino um adolescente e me flagro pensando na decadência dos jovens. Daí ele joga novamente seu lixo pela janela e reparo que é um senhor lá pelos setenta anos. Francamente, tanto dinheiro para comprar um carro desses, mas tão pouca educação. Doze palavrões depois e eu volto a andar pra casa.
05/02/2010
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